domingo, 1 de novembro de 2009

Aquecimento Global

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As referências às mudanças climáticas e ao aquecimento global, seja na Internet ou nos meios impressos de comunicação, nem sempre são unânimes na visão ou teoria que apresentam. Podemos dividir as visões sobre o assunto em cinco grandes teorias, que podem, muitas vezes, aparecerem mescladas:

1ª – As mudanças climáticas não existem e o mundo não se encaminha para um aquecimento global;
2ª – As mudanças climáticas existem e o mundo se encaminha para um aquecimento global;
3ª – As mudanças climáticas existem, mas o mundo se encaminha mesmo é para um resfriamento global;
4ª – As mudanças climáticas são antropogênicas, ou seja, causadas pelas ações humanas;
5ª – As mudanças climáticas não são antropogênicas, mas causadas por fatores naturais, semelhantes ao que ocorreu no passado, em outros momentos de aquecimento ou resfriamento global.

Como se pode ver, os pontos fortes – que também servem como palavras-chave de pesquisas – são as expressões “mudanças climáticas”, “aquecimento global”, “resfriamento global”, “causas antropogênicas” e “causas naturais”. A 2ª e a 4ª teorias são as apresentadas pelos relatórios do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, especialmente os publicados em 2007. Cada vez mais a teoria do IPCC ganha adeptos, graças aos efeitos visíveis no clima da Terra nos últimos dois anos. Os céticos começam a diminuir em número e os crédulos começam a apavorar-se. Mas, o que realmente pode contribuir para uma mudança favorável são ações efetivas de contenção dos efeitos danosos do aquecimento global e das bruscas variações climáticas (calor ou frio extremo em estações invertidas) promovidas por todos: nações, governos, organizações, empresas e cidadãos em geral.

Impactos evidentes

Um recente estudo da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas – SP) aponta para o risco do desaparecimento de dezenas de espécies de árvores da mata atlântica por conta do aquecimento global nas próximas quatro décadas. Este trabalho, um dos primeiros estudos relativos a este importante bioma brasileiro, foi realizado pelo pesquisador Alexandre Colombo.

Considerando o cenário mais otimista, com um aumento de temperatura menor ou igual a 2°C, a maioria das espécies perderia, em média, 25% das áreas atualmente adequadas para sua sobrevivência.

Num cenário mais pessimista, com um aumento menor ou igual a 4°C, todas as espécies estudadas reduziriam sua área de ocorrência em 50%, o que é um golpe mortal em um bioma que já foi devastado em 93%.

No caso da Amazônia, mesmo que o desmatamento fosse zerado agora e toda a mata derrubada até aqui, replantada amanhã, o excesso de gás carbônico lançado na atmosfera pelos escapamentos e chaminés industriais ainda ameaçaria transformar a exuberante floresta tropical em uma rala savana, mais parecida com o atual cerrado. Este alerta foi dado pelo especialista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em palestra recente em Washington. Para ele, a Amazônia é resistente, mas não invencível. Um aumento da temperatura global acima de 3°C levaria a floresta a um ponto irreversível de savanização.

Como os modelos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevêem um aumento de 4°C a 7°C para a Amazônia até 2100 - ambos acima do limite de 3°C, trata-se de uma ameaça que o Brasil não tem como resolver sozinho, pois o fenômeno ocorrerá em escala mundial e não localizada. Tudo isso aliado ao acelerado processo de desmatamento da floresta tende a piorar qualquer prognóstico, por mais otimista que seja.

Ainda na América Latina, o aquecimento global está secando lagos montanhosos e pântanos nos Andes e colocando em risco o fornecimento de água a grandes cidades latino-americanas como La Paz, Bogotá e Quito, conforme mostram pesquisas do Banco Mundial. O risco é especialmente grande no habitat úmido andino conhecido como páramo, responsável por 80% do fornecimento de água aos 7 milhões de habitantes de Bogotá, na Colômbia.

A elevação das temperaturas está fazendo com que as nuvens que cobrem os Andes condensem-se a altitudes maiores. Para Walter Vergara, especialista do Banco Mundial em aquecimento global, o chamado ponto de orvalho vai se dar fora das montanhas, se isso continuar acontecendo. O derretimento das geleiras, também provocado pelo aquecimento global, pode prejudicar o fornecimento de água para Quito e a geração de energia hidrelétrica no Peru.



[(...) o aquecimento global está secando lagos montanhosos e pântanos nos Andes e colocando em risco o fornecimento de água a grandes cidades latino-americanas(...).]

No caso da Europa, o nível do Mar Mediterrâneo poderá aumentar até meio metro nos próximos 50 anos se a a atual tendência de aquecimento das águas se mantiver, revela um estudo do Instituto Espanhol de Oceanografia. Manuel Vargas, oceanógrafo do Instituto e coordenador da investigação, afirmou que “a subida da temperatura superficial (do Mediterrâneo) entre 1948 e 2005 variou entre 0,1 e 0,5 graus ao longo dos 3.200 km” que banham Espanha. Mantendo-se a tendência de aumento da temperatura, o nível do Mediterrâneo “poderá aumentar até meio metro nos próximos 50 anos”, sustentou o diretor do Instituto, Enrique Tortosa. Isso inundaria parcial ou totalmente praias e afetaria infra-estruturas costeiras. De acordo com o mesmo estudo, o nível do Mar Mediterrâneo aumentou rapidamente nos últimos 15 anos – a A variação da subida é de 2,5 a 10 milímetros anuais.

Na Espanha, os efeitos da seca no Rio Piruerga, durante este verão, foram arrasadores (ver foto). Em 120 anos de registros sobre o clima, este foi o mais seco e de mais altas temperaturas na região.



[Os efeitos devastadores da seca no Rio Piruerga, Espanha, são os piores dos últimos 120 anos.]

Nas simulações efetuadas por supercomputadores, com as análises do aquecimento global e o degelo dos pólos, verificou-se que em todo o planeta grande parte das cidades costeiras desaparecerá, mudando radicalmente a geografia que conhecemos. No caso de Portugal, este poderá ficar como a imagem mostra (ver foto abaixo), no ano de 2100.



No Oriente Médio também já se observam alterações sensíveis no clima. Uma neve muito fina caiu em Bagdá recentemente, um estranho fenômeno sem precedentes há quase um século. “A neve caiu em Bagdá pela primeira vez desde há pelo menos um século”, anunciou um comunicado do serviço de meteorologia nacional. Durou algumas horas, mas depressa os flocos de neve se derreteram ao atingir o solo. A neve foi o resultado do choque de uma massa de ar fria e seca proveniente da Sibéria e outra quente e húmida, do Mar Vermelho.

“É muito raro isto acontecer”, comentou Daoud Chaker, diretor do serviço de meteorologia. “Nunca vimos cair neve. Esta queda de neve está ligada às mudanças climáticas que ocorrem em todo o mundo”, disse.

Fenômenos deste tipo incomuns em certas regiões tendem a se tornar cada vez mais freqüentes neste século.

Relatório sobre o Desenvolvimento Humano

Segundo o recentemente publicado “Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2007/2008”, do UNDP (United Nations Development Program, “Programa de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas”), o desenvolvimento sócio-econômico não pode ser destacado da problemática ecológica. Nossa liberdade depende completamente da integridade ambiental. O relatório destaca a falta de empenho dos países mais desenvolvidos, grandes poluidores, e alerta para os catastróficos efeitos do aquecimento global no caso da negligência continuar sendo a tônica da política ambiental internacional.

“Nossa mensagem reclama por uma ação coletiva e imediata, mas não é um grito de desespero”, diz Kevin Watkins, um dos autores do relatório. “Trabalhando juntos e com determinação podemos vencer a luta contra as mudanças climáticas. Permitir que a situação atinja um ponto irreversível será uma derrota moral e política sem precedentes na história da humanidade.”, complementa. Ou seja, ainda há tempo, mas não muito!

Kemal Dervis, um dos diretores da UNDP, enfatiza que “definitivamente, as mudanças climáticas visíveis e previsíveis constituem um problema global, mas são os países mais pobres, menos responsáveis pelos atuais níveis de poluição, que sofrerão de modo mais grave e imediato os efeitos do superaquecimento”.

Considerando a capacidade de regeneração da Terra, o Relatório sugere que se cada cidadão dos países pobres ou em desenvolvimento causasse a mesma emissão de gases nocivos de um europeu médio, seriam necessários quatro planetas para reabsorvê-los; em comparação com um australiano médio, seriam necessários sete planetas; em comparação com um norte-americano médio seriam necessários nove planetas.

De acordo com o Relatório, os países economicamente desenvolvidos deveriam reduzir suas emissões em 30% até 2020 e em 80% até 2050; os países pobres e em desenvolvimento (como o Brasil) deveriam reduzir suas emissões em 20% até 2050 – tudo isso em respeito aos níveis de 1990 estabelecidos no Protocolo de Quioto.

O Relatório aponta as quatro principais ameaças ao desenvolvimento humano, atingindo em especial os 2,6 bilhões de pessoas que sobrevivem com menos de dois dólares diários:

- Declínio da produção alimentícia: pela seca ocasionada pelo aumento de temperatura e pela inconstância das chuvas.

- Aumento do número de pessoas vivendo em condições de “estresse hídrico”: haveria um acréscimo de 1,8 bilhão de necessitados até 2080.

- Danos ecológicos e materiais incalculáveis devido ao aumento do nível do mar em vários países: uma conseqüência do derretimento das calotas polares, que parece acentuar-se mais do que se supunha.

- Migração de cerca de 400 milhões de pessoas em decorrência da escassez de recursos básicos: isso criaria problemas de várias naturezas, como conflitos por recursos.

O relatório ainda enfatiza que uma catástrofe ambiental ameaçaria toda a vida na Terra, e seria constituída de três fatores principais: aquecimento global (aumentando as doenças tropicais), a desestabilização dos ecossistemas (proliferação de pragas) e o derretimento dos pólos (aumento dos níveis do mar, submergindo várias cidades costeiras). É impressionante como afirmações desse tipo, há poucas décadas atrás, eram restritas a “grupos esotéricos”, médiuns, videntes, fanáticos religiosos e arautos da desgraça...

Para minimizar o problema, o Relatório sugere várias políticas, como taxas sobre a emissão de gases nocivos, rigor na contenção e apoio a mecanismos de desenvolvimento limpo, além de mais investimentos em pesquisa. Os custos de adaptação a um modelo menos poluente, capaz de facilitar a regeneração planetária, estariam em torno de 1,6% do PIB mundial, num plano de ação para 2030. É uma cifra alta, mas as conseqüências do descaso podem ser muito maiores.

O documento ainda esclarece que a freqüência dos desastres naturais relacionados às mudanças climáticas está aumentando, comparando a média atual com a média registrada entre 2000 e 2006. Das 197 milhões de vítimas por desastres naturais, 164 milhões foram por inundações.

A Ásia foi o continente mais afetado pelas catástrofes naturais, sendo cenário de oito dos dez maiores desastres do ano passado, incluindo seis inundações. As inundações foram os únicos desastres que aumentaram de maneira significativa, registrando-se 206 só no ano passado. Nos últimos sete anos a média foi de 172.

O país mais afetado por mortes foi Bangladesh, com mais de 5.000, seguido da Índia (1.103), Coréia do Norte (610), China (535) e Peru (519), segundo o relatório, que foi elaborado pelo Cred (Centro de Pesquisa da Epidemiologia dos Desastres), com sede na Bélgica.

O número de vítimas mortais, no entanto, foi menor em 2007 (16.517 mortos) diante da média de 73.931 registrada entre 2000 e 2006. Os EUA, com 22 catástrofes naturais em 2007, foi o país mais afetado, seguido da China (20), Índia (18), Filipinas (16) e Indonésia (15).

Uma das provas reivindicadas pelos especialistas para o impacto das mudanças climáticas na incidência de catástrofes naturais é o aumento de inundações, furacões e tempestades tropicais. Ásia e África estão sofrendo inundações mais severas e freqüentes. Isso aumenta o risco de um acréscimo significativo de casos por doenças infecciosas (dengue, leptospirose) nos próximos cinco anos.
Contrastes: Produção limpa X modelo agrícola arcaico

O Brasil iniciou 2008 com 261 projetos de produção limpa e a expectativa de evitar uma emissão de 271,4 milhões de toneladas de CO2 até 2012. Os projetos seguem as normas estabelecidas no Protocolo de Quioto para os chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Cada tonelada de CO2 evitada pode ser vendida no Mercado de Créditos de Carbono a países industrializados que se comprometeram, de forma obrigatória, a reduzir suas emissões de gases em 5,6% em relação ao que liberavam em 1990. No mercado, cada tonelada está cotada em cerca de 17 euros, o que representaria uma receita de R$ 11,9 bilhões (número de referência, pois os valores variam de acordo com o projeto e devem ser considerados ao longo dos anos em que será medido).

O desempenho do Brasil na adoção de tecnologias de produção menos poluentes o coloca em terceiro lugar no mundo, superado apenas por China e Índia. Dos 2.889 projetos de MDL em alguma fase de aprovação, a China detém 963 e a Índia, 819. Como a China tem uma produção muito poluente, seus projetos significam reduções maiores de emissões de gases (2,14 bilhões de toneladas) seguido de longe pela Índia (966 milhões) A produção brasileira, em especial de energia, é considerada uma das mais limpas do mundo. O Brasil só figura entre os cinco maiores emissores por causa do desmatamento e das queimadas, representando 75% das emissões nacionais de carbono.

Em contraste com o exposto, um relatório divulgado em janeiro pelo Greenpeace aponta o modelo do agronegócio como um dos responsáveis pelo processo de aquecimento global. O documento, chamado “Mudanças do Clima, Mudanças no Campo: Impactos Climáticos da Agricultura e Potencial de Mitigação”, afirma que a agricultura baseada no uso intensivo de energia e produtos químicos tem contribuído para aumentar os níveis de CO2, metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) na atmosfera.

O maior responsável por este quadro são os produtos químicos, que respondem por cerca de 2,1 bilhões de toneladas de CO2 anuais. O excesso de fertilizantes provoca a emissão de óxido nitroso (N2O), 310 vezes mais potente que o CO2 em relação à absorção da radiação infra-vermelha. Chama-se a isso Potencial de Aquecimento Global (GWP). O dióxido de carbono é utilizado como padrão, sendo seu índice “1”; o do metano é “21”; o do óxido nitroso é “310”. Quanto maior esse GWP, mais danoso ao meio ambiente é o gás.




[Entre as milhares de obras recentemente publicadas sobre o Aquecimento Global, há tanto as de natureza científica e informativa (esq.) quanto as de viés apocalíptico-fundamentalista e causadoras de pânico (dir.).]

Antártica e Groenlândia: um degelo irreversível?

Um fato: em dez anos, a perda do gelo antártico aumentou em 75%. As grandes geleiras no oeste da Antártica estão derretendo e perdendo massa para o mar cada vez mais rápido. A causa? O aumento da temperatura do oceano ao redor do continente gelado. E, quem afirma é Eric Rignot, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Pasadena, EUA), autor de um estudo sobre o problema publicado em janeiro, na revista "Nature Geoscience".

A pesquisa de Rignot é preocupante, pois a manutenção do gelo continental antártico é fundamental para evitar um grande aumento do nível do mar. Para Jonathan Bamber, pesquisador da Universidade de Bristol (Inglaterra), que também participou do estudo, é complicado fazer qualquer tipo de previsão para os próximos dez anos. "Nós não ficaremos surpresos se essas perdas continuarem ou até mesmo aumentarem bastante nos próximos anos, mas é muito difícil colocar uma probabilidade de ocorrência nisso", disse.

Outro fato: a Groenlândia registrou o maior degelo dos últimos 50 anos, o que pode acelerar o processo de elevação do nível dos oceanos. O Ártico como um todo parece estar degelando mais rapidamente do que se supunha. A causa? O algoz de sempre: o aquecimento global.

A Groenlândia tem gelo suficiente para elevar o nível dos mares em até sete metros! Claro que o processo não ocorreria de um ano para outro, mas ao longo de séculos. Ou seja, algo menos apocalíptico do que anunciam os arautos da desgraça, mas mais preocupante do que contestam os céticos de plantão.

O estudo foi feito por Edward Hanna, da Universidade de Sheffield (Inglaterra), em associação com pesquisadores da Bélgica, dos EUA e da Dinamarca. A conclusão final é a de que o aquecimento cada vez mais acentuado pode provocar um degelo irreversível. O estudo observou que os modelos típicos de previsão meteorológica apontam para um aquecimento de 4 a 5ºC na Groenlândia até 2100.

O derretimento dos pólos sempre foi assunto corrente entre os profetas e místicos das décadas de 70 e 80, no século XX. Agora, surpreendentemente, seus arautos são cientistas, o que deve preocupar a todos, já que o assunto saiu do escopo da superstição para o da ciência. Ademais, os cientistas nos vêm agora com dados, enquanto os místicos só faziam especulações passionais.



[Além da Antártica e Groenlândia, os glaciares e as cordilheiras podem ter todo seu gelo derretido em poucas décdas, se ações efetivas não forem implantadas já.]

Ações desesperadas ou paliativos para calar a opinião pública?

No meio de todo esse quadro dantesco, a China, um dos principais poluidores do mundo, planeja plantar 2,5 bilhões de árvores em 2008, 10% a mais que em 2007. Isso aumentará a cobertura vegetal do país em 5,3 milhões de hectares. Desde a década de 1950 para cá, a China exauriu seus recursos florestais, inclusive os do invadido Tibet, o teto do mundo, que vê o gelo de suas cordilheiras tendo o mesmo destino do gelo dos Andes, da Groenlândia e da Antártica: o derretimento que pode se mostrar irreversível. As empresas chinesas ainda são acusadas de, por conta de sua rápida e selvagem industrialização, deteriorarem as reservas florestais do mundo, já que a demanda de papel no país é enorme. Será que o reflorestamento tardio dos chineses surtirá o efeito desejado?

Do outro lado do mundo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM, uma agência da ONU) está discutindo junto à NASA e a outras agências espaciais a colocação de um satélite em órbita para monitoramento exclusivo de mudanças climáticas. O objetivo da OMM é garantir que os satélites que serão lançados nos próximos 20 anos registrem constantemente parâmetros como nível dos mares e gases de efeito estufa na atmosfera. Os dados seriam utilizados como base para o desenvolvimento de políticas ambientais de minimização dos efeitos das mudanças climáticas. Mas, o quanto realmente tais efeitos podem ser minimizados? Não há uma resposta de consenso quanto a isso.

De acordo com o relatório Riscos Globais 2008, divulgado pelo World Economic Forum (Davos), em 2007 vários alimentos básicos alcançaram preços recordes e as reservas globais de alimentos atingiram os menores níveis dos últimos 25 anos, o que tornou a oferta de alimentos sujeita a crises internacionais ou desastres naturais - em alguns casos ocasionando as “revoltas de comida”, que já ocorreram em 2007. Essas revoltas podem se tornar cada vez mais freqüentes nos próximos anos, em especial em países pobres da África, Ásia e América.

Riscos Globais 2008 sugere que os fatores por trás da insegurança alimentar global (crescimento populacional desenfreado, mudança de estilo de vida, uso de safras para produzir biocombustíveis e mudanças climáticas) devem se agravar nos próximos dez anos, gerando conflitos graves e convulsões sociais perigosas.

Contudo, algo a sociedade mundial deverá aprender com o processo provocado pelas mudanças climáticas: autogerência, responsabilidade individual no coletivo e melhor distribuição de tarefas, recursos e poder.

Essa é a opinião de jornalistas, cientistas e ativistas ambientais em todo o mundo, entre eles Hernán Sorhuet Gelós, jornalista do jornal uruguaio El País, que em seu artigo intitulado “Por serem graduais, as mudanças provocadas ao nosso redor pelo aquecimento global parecem não nos preocupar” anuncia:

“Uma das grandes diferenças que está se operando e que começa a predominar é o convencimento de que a solução dos grandes problemas chegará de mãos dadas com a participação da sociedade, e não como resultado do bom funcionamento de alguns setores de forma isolada. Esta participação é muito mais que a conhecida atuação das organizações não governamentais (ONGs).
Trata-se de uma etapa superior porque implica avanços notórios no empoderamento, ou seja, um novo exercício de poder, baseado na tomada de consciência das pessoas do poder individual e coletivo que têm para gestionar e resolver seus problemas. (...)
As urgências ambientais (sociais, culturais, econômicas, políticas e ecológicas) obrigam a queimar etapas com rapidez.
Conquistando um avanço significativo do empoderamento, a sociedade estaria no caminho correto para alcançar um desenvolvimento econômico, social, ecológico e institucional duradouro. (...)
Se pensamos no aquecimento global como um exemplo emblemático da grave crise ambiental atual, é evidente que sua presença encurta os prazos e reduz os níveis de paciência.
É um fenômeno com uma característica única e para muitos inesperada: afetará a toda a humanidade. E ainda que aconteça de diferentes maneiras, em qualquer caso será o suficientemente grave para causar-nos um grande abalo.
A sociedade está consciente que deve participar da preparação das medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas? Como e quando fará isso? (...)
Nestes dias a informação que a sociedade recebe sobre o futuro do aquecimento global parece abundante.
Mas, sem dúvida, não é boa a qualidade, porque a mensagem geral que deixa é que o problema está ainda distante da nossa realidade pessoal e grupal. E não é assim. O que está ocorrendo alerta sobre o quanto somos vulneráveis e o quanto é vital reagirmos imediatamente.”

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