Esse lance daquele senador sem noção me deixou pensativa.
Fiquei imaginando o que ele viu nos games, se é que já passou perto de algum console, que não tenhamos visto em filmes, em desenhos animados ou até mesmo na bíblia?
Vamos por partes.
Os filmes passeiam entre o real e a fantasia sem limites. Violência, drogas, sexo, traição, vampirismo, magia negra e muito mais. É de sua prerrogativa explorar isso e é de nossa alçada desfrutar disso com o devido discernimento. Aliás, o que nos atrai é justamente essa possibilidade de brincar com o impossível e o inimaginável. Não é diferente com os livros e tampouco com os games.
A diferença é que com relação aos filmes há uma classificação etária e poderia inclusive ser aplicado aos games como bem sugeriu o Vitor nos comentários ao invés de proibí-los sumariamente.
Okay, e os desenhos animados?
Vejam os fofinhos e engraçadinhos Tom e Jerry e Pica-Pau por exemplo, que passam a rodo nas TVs abertas. Não existe um episódio em que um não destroça o outro e ainda ensina desvios de conduta como trapacear, mentir e tirar vantagem em tudo a qualquer preço.
Miolos explodindo, tortura e maldade são a máxima em um alguns clássicos cujo público alvo são crianças e que na prática partem da premissa de não só divertir mas também de ensinar.
A violência nos cartoons foi inclusive inspiração para uma exposição numa galeria de arte em Londres, há um tempo atrás.
Bom, e o que dizer da Bíblia?
Bem, já é por si só uma ofensa ensinar que a raça humana surgira de Adão e Eva, mas é melhor não entrar nesse mérito né?
No entanto, já pararam pra pensar como o Livro Sagrado usado para catequizar e evangelizar possui as piores atrocidades possíveis como incesto, infanticídio, impiedade, genocídio e por aí vai?
Mas como se trata da bíblia, é lindo, sublime e aceitável matar o irmão, tomar uma irmã como esposa, dizimar cidades inteiras com fogo, destruir o mundo com água, matar recém-nascidos ou primogênitos de várias famílias. Pelo menos essas são as “lendas” contadas lá e se fossem virar enredo de um game, passaria a ser ofensivo e violento?
O fato é que o Deus do Velho Testamento era tão implacável que faria o Nemesis parecer uma moça e aí entram em cena os falsos moralistas sem conhecimento de causa achando que a humanidade está ameaçada por um brinquedo de gente grande.
Os games apenas exploram a mesma surrealidade da bíblia, de um filme ou mesmo de um desenho e é tido, segundo o nobre senador em questão, como o grande vilão capaz de ameaçar costumes, tradições, credos e o diabo a quatro. Meus queridos, quem endossa isso está exercendo o ápice da ignorância.
Resumo da ópera:
Se for pra caçar chifre em cabeça de cavalo então vamos ampliar o foco. O que eu quero dizer é que se formos olhar tudo sob a mesma ótica veremos que em tudo existem coisas e situações refutáveis. Ou seja, se colocarmos na balança tudo deveria ser proibido.
Já disse e repito. O que faz alguém se tornar violento, ter desvios sociais e de conduta não é estourar a cabeça de um traficante no morro do Rio em Modern Warfare 2, mas sim a falta de amor em família, de comida, de escola, de dignidade. Até porque sabe-se que o índice de criminalidade é bem maior entre os desfavorecidos e estes com certeza não possuem um videogame de última geração pra colocá-los no “mau caminho”.
Eu apenas não consigo aceitar que a hipocrisia se alie à burrice pra cercear um direito com medidas arbitrárias enquanto o que realmente precisa ser mudado continua na mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário