Alexandre Magno (356 - 323), rei da Macedónia, foi um jovem vigoroso, de cabelos louros e frisados, com uma personalidade fascinante, cuja imagem enamorou toda a antiguidade. Casou-se quatro vezes, mas de acordo com os costumes da época, também praticava a homossexualidade.
Conta a história que quando morreu o seu amigo e amante Hefestion, a sua dor ultrapassou os limites humanos, sendo os seus gritos espantosos e semelhantes aos da demência.
Ricardo Coração de Leão (1157-1199), rei de Inglaterra, homem de vontade indomável, generoso e ousado, turbulento e impulsivo, trovador excelente e músico refinado, casado com Berenguela de Navarra, tinha condutas homossexuais evidentes.
Leonardo da Vinci, génio sólido e majestoso, foi uma personagem curiosa e indecifrável da qual se duvidou das suas tendências reais, ainda que pela sua vida e costumes a história inclina-se para pensar que foi homossexual.
A Balada da prisão de Reading é um belíssimo e triste poema que escreveu na sua tormenta e prisão um dos homossexuais mais célebres e mais desprezados, Oscar Wilde (1854-1900), que ultrapassou os limites da heterossexualidade (casado com um amor compartilhado, com dois filhos que amava muito) para apaixonar-se pelo Lorde Alfred Douglas, directamente responsável pelos anos cruéis de prisão que sofreu por uma sociedade intolerante e umas leis injustas.
Virginia Woolf (1882-1941), uma das maiores escritoras inglesas de todos os tempos, contemporânea de Joice e Lawrence, foi uma das inspiradoras do grupo de Bloomsbury, um mundo de inteligência que desafiou a moral vitoriana pela sua cultura, inconformismo e delicadeza. Casada com um homem que a amou activa e atentamente, o historiador Leonard Woolf, Virginia Stephen (o seu nome de solteira) era uma mulher com uma personalidade magnética, mas desgraçadamente afectada por profundas depressões que a levaram ao suicídio.
A mulher foi quase o único tema dos seus livros, que constituem um esplêndido mergulho psicológico no universo feminino; este interesse deu lugar a uma obra melódica, trágica e formosa. Virginia amou - espiritual e provavelmente fisicamente - outra grande escritora, Vita Sackwille-West, que tinha tendências homossexuais e estava casada com outro homossexual declarado, amor que inspirou uma das maiores novelas de Woolf, Orlando, obra que contém páginas duma beleza extraordinária.
Na figura (em cima). Na Grécia antiga, a relação sexual entre homens estava bem considerada e era totalmente aceite.
Com estes exemplos pretende-se demonstrar uma coisa que é uma realidade palpável: o comportamento homossexual existiu sempre e em todos os sítios. Não obstante, a atitude das diferentes culturas perante este comportamento foi e é muito diversa: desde a mais pura condenação até ao incitamento decidido, passando pela simples tolerância. A esta diversidade de atitudes há que acrescentar a sua escassa persistência, já que, numa mesma cultura, mudam com o tempo até chegar, algumas vezes, a inverter-se totalmente.
A homossexualidade e Grécia antiga são duas palavras que estão unidas até ao extremo do mito. E mais do que homossexualidade poder-se-ia falar de pedofilia, o amor aos rapazes jovens, sobretudo nas classes intelectuais e dominantes. Assim o refere Licinio na sua obra Erotes, que contém uma excelente definição do conceito grego de amor: «O casamento é para os homens uma necessidade da vida e algo precioso, se é feliz; mas o amor dos moços, sempre que persiga os sagrados direitos do afecto, é, na minha opinião, resultado da verdadeira sabedoria. Por conseguinte, que o casamento seja para todos, mas o amor dos moços seja só privilégio dos sábios, já que uma virtude perfeita é total mente inimaginável para as mulheres.»
Na figura (em cima): Na Grécia antiga a homossexualidade era praticada normalmente e os jovens Efebos, como o representado nesta cerâmica, tinham grande aceitação entre os intelectuais e as classes dominantes.
No mundo antigo, incluindo Roma, os jovens (geralmente escravos) eram objecto de grande procura com fins homossexuais. Coisa muito distinta acontece com O Antigo Testamento, inspirador, em grande parte das ideias do cristianismo sobre o tema. Os severos mandamentos judaicos contra a homossexualidade e, em geral, contra toda a sexualidade, devem ser entendidos em grande parte como uma reacção dos dirigentes de um pequeno povo que lutava pela sua sobrevivência.
A interpretação das leis de Moisés está em grande parte baseada em conseguir tribos maiores e mais poderosas que mantivessem o povo judeu forte contra os seus inimigos. Nas suas condições, não se deve estranhar que considerassem necessário não desperdiçar o precioso esperma masculino, já que com isso se impediria o crescimento da tribo. Entendendo esta forma de pensar podem compreender-se as atitudes hebraicas em relação à homossexualidade. Todas as manifestações homossexuais foram consideradas como indesejáveis, sujas e como resíduos do desconsiderado paganismo anterior.
Na figura (em cima): Na Índia antiga, o contacto físico entre mulheres era considerado normal e saudável. As famílias ricas costumavam escolher uma ou mais companheiras para as suas filhas entre as jovens das classes mais humildes. Estas raparigas (sakhi) viviam com elas como se fossem "irmãs" e costumavam dormir na sua cama.
Além da condenação dos sodomistas, a Bíblia Sagrada sanciona com a morte a homossexualidade no Levítico, capítulo XX, onde se estabelecem os actos que devem ser considerados dentro da sodomia e diz-se: «Se um homem dorme com outro homem, como se faz com uma mulher, ambos cometem uma abominação e serão castigados com a morte. Que caia o seu sangue sobre eles.»
O cristianismo, pelo menos nos seus primeiros tempos, não sancionou com fortes penas nem castigou com a morte os que cometiam sodomia ou -as adúlteras, mas propôs a interiorização da ideia de pecado, através do auto controlo, em detrimento da sanção externa. Na mensagem de Cristo não se condena explicitamente a homossexualidade.
São Paulo, na sua Epístola aos Romanos, refere-se a esta, e condena tanto a masculina como a feminina: «Por isto entregou -os Deus às paixões vergonhosas, porque, por uma parte, as suas mulheres mudaram o uso natural pelo que é contra a natureza. Igualmente por outra, também os homens, abandonado o uso natural da mulher, abraçaram-se na concupiscência de uns com os outros, homens com homens, cometendo coisas vergonhosas e recebendo em si próprios a devida recompensa do seu extravio». É aqui, onde pela primeira vez nos escritos cristãos se emprega a voz «contra a natureza», que logo será amplamente utilizada por alguns moralistas desde a Idade Média.
O imperador romano Justiniano (482-565) - já com o cristianismo triunfante decretou leis duríssimas contra os luxuriantu contra naturam, castigando a homossexualidade com a morte, da mesma forma que ocorria com o adultério.
Na figura (em cima): Quadro realizado em 1860 representando o cortejo que acompanhava os réus ao patíbulo depois de terem sido julgados pelos seus juízes.
Curiosamente, a Idade Média foi relativamente tolerante com a homossexualidade, quiçá porque o imperador Carlos Magno (742-814) não inventou novos castigos contra os homossexuais, mas mostrou- se claramente contra a homossexualidade, ainda que a tenha denominado «pecado» e não «delito».
Ao produzir-se a invasão árabe na Península Ibérica, os costumes muçulmanos, que foram muito tolerantes com a homossexualidade, impuseram-se na Península. Mas a resposta não se faz esperar e, já desde o início da Reconquista, procurou-se implantar a diferente mentalidade cristã. São Pelayo foi canonizado por não querer aceitar as exigências sexuais do califa Abderramán III, que o mandou matar por esse motivo.
Com a chegada de Afonso X o Sábio, ao iniciar-se a Baixa Idade Média, a dureza do castigo contra a homossexualidade foi exemplar: «Mandamos que quaisquer que sejam que tal pecado cometam, que logo se saiba, que ambos a dois sejam castigados perante todo o povo, e depois, ao terceiro dia, sejam pendurados pelas pernas até que morram, e nunca onde sejam tolhidos».
Na época de Eduardo II (1284-1337) o último monarca inglês medieval, abertamente homossexual, estendeu-se o comportamento homossexual. O mesmo Eduardo II foi deposto e assassinado. O castigo legal do comportamento homossexual conservou-se nas leis inglesas durante mais seis séculos com penas muito severas.
A Santa Inquisição ditou, na época dos Reis Católicos, leis contra o «pecado nefando». Entre elas há uma, de 22 de Agosto de 1497, com o título Da sodomia e Bestialidade, na qual se condena os autores deste delito que «não é digno de ser nomeado» a «serem queimados em chamas de fogo», qualifica-o como heresia e crime de laesae majestatis e diz que «é merecedor das maiores penas que podem ser dadas por obra».
Na época do Renascimento - com o retorno às ideias e à estética clássicas - significou um certo respiro. A sexualidade estendeu-se como rasto de pólvora nas cidades renascentistas italianas, tanto que a prostituição feminina passou um momento de crise porque os homens preferiam praticar o pecado «contra a natureza». Em Veneza, apesar de que as leis da Sereníssima República castigassem a sodomia enforcando e depois queimando os culpados, afogando-os nos canais ou então condenando-os a prisão perpétua, o governo chegou a incitar as prostitutas para que se exibissem mais para conseguir que os cidadãos diminuíssem as suas inclinações para os prostitutos e jovens afeminados.
Na figura (em cima): Gravura que representa um bordel para homossexuais masculinos em Londres na época vitoriana.
No século XVII, a homossexualidade começou a ser considerada como um delito cometido por «dementes e pecadores». O século XVIII, o século das Luzes e da Ilustração apregoou a liberdade sexual e um culto ao hedonismo exacerbado, mas só para a nobreza ociosa, já que foram publicadas muitas leis e decretos para moderar a vida sexual do povo.
Na América colonial os homossexuais eram, nos finais deste século, normalmente justiçados, mas as novas ideias liberais que vinham de França alteraram os costumes, e não as leis no que se refere ao castigo da homossexualidade e, apesar do dito anteriormente, já era frequente a meio do século XVIII, não justiçá-los, conformando-se os juízes e inquisidores a enviá-los à prisão para que se expiassem as suas culpas.
«Viciosos», «delinquentes», «anormais», «bruxas» e «pecadores», os homossexuais esconderam-se como ratos durante séculos, fugiram, levaram (ainda nos nossos dias) uma vida dupla ou suicidaram-se.
Uma triste condição praticamente até aos nossos dias que pode ser resumida com um dos poemas da mencionada obra Balada de Oscar Wilde, que exemplifica a vergonha que deveria sentir a sociedade pelo seu passado histórico em relação à homossexualidade:
Também sei, e oxalá todo o mundo o soubesse,
que toda a prisão construída pelos homens
se edifica com tijolos de vergonha,
e cercam-na com barrotes para que,
aos homens, que os seus irmãos mutilam,
Cristo não veja.
O ano de 1869 é um marco na história da homossexualidade. Um médico húngaro chamado Benkert escreveu uma carta ao ministro de Justiça, descrevendo a história do exame racional da homossexualidade e argumentando que o Estado não deverá entrar nos quartos dos cidadãos. Benkert defendia o comportamento homossexual. A medicina, punha-se pela primeira vez ao lado dos homossexuais, ainda que algumas considerações de outros autores (Kreepelin entre outros) já a tivessem introduzido entre as doenças psiquiátricas, o que de certa maneira era «libertador».
Podia-se considerar a prisão - prosseguia Benkert - tratamento apropriado para soberanos como Carlos IX, Henrique II, Jaime I, o Papa Júlio II, Napoleão I, Luís XVIII ou Frederico o Grande? Ou para homens de letras e ciências como por exemplo Maquiavel, Miguel Angelo, Shakespeare, Mazzarino, Moliere, Newton, Wincklmann, Cambacéres, Byron, August Graf von Platen e Eugene Sue?
A lista só menciona figuras da era cristã mas, inclusive dentro dos seus limites, é óbvio que tem graves omissões. O seu propósito poderia ter sido muito mais importante acrescentando outros nomes (e Benkert observa que se poderiam acrescentar milhares a qualquer lista de homossexuais que efectuaram contribuições notáveis à civilização e cultura ocidentais). Entre eles recordemos Bacon, Eduardo II, Sir Walter Raleigh, Marlowe, Holderlin, Leonardo da Vinci, Cellini, etc. Se estas pessoas mereceram a prisão, concluía Benkert, «tudo o que nos contaram acerca da nossa história não é mais do que uma sarta de mentiras e futilidades».
Em 1897, formou-se na Alemanha a primeira organização em prol da liberalização homossexual. O seu nome era Comité Científico e Humanitário. Foi fundada por Hirschfeld, médico judeu que dedicou grande parte da sua vida ao estudo da sexualidade e da homossexualidade em geral. A partir de então iniciou-se na Alemanha uma luta pela reforma das leis homossexuais e a integração na sociedade que, através de conferências, congressos e publicações, estendeu-se principalmente à Austrália, Países Baixos e Inglaterra.
A campanha abolicionista deste primeiro movimento de carácter reformista ou revisionista foi sustentada pelos partidos obreiros e, principalmente pelo líder social-democrata alemão August Bebel, e o socialista britânico Edward Carpenter.
Os nazis chegaram ao poder e os gabinetes do Comité Científico e Humanitário foram saqueados e incendiados pelas juventudes hitleristas; os principais líderes que não se puderam exilar foram detidos e iniciou-se uma verdadeira «caça às bruxas» de homossexuais, acusados ao mesmo tempo de comunistas, e enviados, marcados com um triângulo cor de rosa para os campo de concentração onde foram submetidos à mais cruéis experiências «científicas» e humilhações. Calculou-se em cerca de 250.000 os homossexuais exterminados nestes campos e, junto com os ciganos, foram os únicos grupos de sobreviventes que não foram indemnizados nem mencionados pelo governo alemão.
Enquanto tudo isto se passava na Alemanha de Hitler, na União Soviética, Estaline, fazendo eco das manifestações de Gorki, que proclamava que os homossexuais eram incompatíveis com o socialismo por serem um produto típico de uma sociedade capitalista e burguesa, iniciava também uma luta contra os homossexuais e suprimia a liberdade sexual que reinava na União Soviética desde que em 1918 Lenine tinha abo lido todas as leis antissexuais existentes na época czarista. Centenas de homossexuais foram enviados para a Sibéria, outros suicidaram-se e os restantes tiveram de se esconder ou exilar, como o grande poeta Mijail Kuzmin. Desta forma, o primeiro Movimento de Liberação Homossexual da história foi exterminado entre 1933 e 1935 pelos nazis da Alemanha e pelos estalinistas na União Soviética.
Sem embargo, até ao final da década dos sessenta, a prestigiosa «American Psychiatric Association» não eliminou da sua lista de doenças psíquicas a homossexualidade, que a medicina - e concretamente a psiquiatria - retirou oficialmente dos estudos sobre patologia mental e homossexualidade. Apesar disto continuam -noutras esferas médicas- a existir hipóteses que tentam explicar, sobretudo, a homossexualidade exclusiva, «a de toda a vida».
A tomada de consciência: dos «gays»
A maioria das organizações homossexuais rejeitam o termo homossexual pela sua origem médica e preferem o de «gay» (gay em inglês, gai em francês, gaio em italiano, etc.). Este termo de raiz provençal, tem na sua origem o significado de alegre, jovial, de vida festiva e dissipada, etc .. Outra opção, mais restrita, fê-lo equivalente a homossexual, mas a um homossexual que se reconhece como tal, que se aceita e luta para reivindicar os seus direitos.
Foi em 1969 nos Estados Unidos,
pela primeira vez na história, que os homossexuais como resposta a uma das frequentes rusgas policiais em alguns bares do gueto nova-iorquino, em vez de fugir enfrentaram-se e iniciaram uma batalha campal que durou um fim de semana e se saldou com vários feridos. Foi assim que nasceu o Gay Libertation Front que, com manifestações, reuniões, comícios e todo o tipo de demonstrações, se estendeu por toda a União e passou para o Canadá e Porto Rico. Destes países, passou para a Argentina (Frente de Liberação Homossexual Argentina) e, atravessando o Oceano Atlântico, impôs-se na Grã Bretanha, Alemanha, Benelux, Países Escandinavos, Itália, França (neste país já tinha participado nos acontecimentos de Maio de 1968), Grécia e outros.
Assim, os homossexuais que se aceitam a si próprios (denominados «egosintónicos» em contraposição aos que não desejam continuar a sê-lo e/ou se sentem profundamente desgraçados pela sua condição, que se denominam «egodistónicos») ainda que possam levar uma vida privada anónima e reservar as suas manifestações homossexuais na mais pura intimidade, podem desejar um reconhecimento aberto e um respeito dos seus direitos. Para isso agrupam-se em círculos sociais e políticos e adoptam o termo gay como etiqueta preferida.
O que é ser-se homossexual
A homossexualidade define-se como a tendência e a conduta a reagir preferentemente com companheiros do mesmo sexo. Este termo é aplicável tanto a homens como a mulheres, ainda que as últimas, como homenagem à poetisa Safo e à sua ilha Lesbos, são também denominadas de lésbicas.
O indivíduo ambissexual ou bissexual é aquele que se relaciona com companheiros de qualquer sexo, ainda que existam graduações que vão desde a heterossexualidade exclusiva até à homossexualidade exclusiva. No seu célebre relatório sobre a conduta sexual, Kinsey elaborou a sua teoria do continuum, segundo a qual, a conduta sexual humana não está dividida em categorias claramente separadas e contrárias; homossexualidade e heterossexualidade não são compartimentos estancados, mas dois extremos do continuum no qual se pode situar toda a população, dependendo da sua maior ou menor atracção em relação a pessoas do próprio sexo ou do sexo oposto.
Kinsey idealizou a seguinte escala, dividida em seis pontos (mais um grau certo), que é útil para fazer uma classificação prá tica segundo a biografia sexual que apre sentam os indivíduos:
O) Exclusivamente heterossexual.
l) Relações e experiências quase totalmente heterossexuais, ainda que circunstancialmente possa ter relações com o mesmo sexo.
2) Preponderância de relação heterossexualidade ainda que responda a estímulos homossexuais e tenha experiências homossexuais ocasionais.
3) Bissexual na sua atitude.
4) Reage mais a estímulos homossexuais que heterossexuais.
5) Quase totalmente homossexual na sua reacção psicológica e, na prática, com contactos heterossexuais ocasionais.
6) Exclusivamente homossexual.
Do trabalho de Kinsey deduz-se a necessidade de diferenciar as pessoas cuja orientação e actividade são homossexuais, daquelas que têm uma conduta homossexual acidental. Como prática acidental, a homossexualidade é comum entre os que não são homossexuais. A pré-adolescência e a adolescência são períodos em que esta conduta é frequente, quase sempre motivada pela curiosidade. Durante a idade adulta estas práticas tornam-se menos comuns entre os indivíduos heterossexuais.
No entanto, existem situações especiais em que se incrementa esta actividade. Geralmente, qualquer situação de isolamento social forçado, na qual as situações de relação com o sexo oposto diminuem, favorece a actividade homossexual: em prisões, internamentos, seminários e durante o serviço militar observa-se com alguma frequência o aumento do homossexualismo acidental. Uma pergunta que preocupa muito os pais é quando se começa a «notar» a homossexualidade, especialmente quando vêm que o seu filho ou filha adolescente passa uma época na qual parece que não se relaciona com membros do sexo oposto.
Em relação à resposta para pessoas do mesmo sexo, cabe distinguir a partir dos primeiros sentimentos, que podem passar desde uma simples amizade a converter-se em mais ou menos românticos e platónicos, até chegar ao desejo de contacto físico e, finalmente de contacto genital. Este processo costuma iniciar-se na adolescência e pode observar-se uma conduta distinta segundo o sexo. Referiu-se que a primeira relação sexual, geralmente, é já de tipo genital nos homossexuais masculinos, enquanto que nas mulheres é muito mais romântica ou afectiva, e não costuma incluir contacto genital, sem que por isso seja menos emocionante.
Também se viu, que principalmente na adolescência, os homens e mulheres homossexuais apresentam uma resposta heterossexual reflectida em sonhos, em fantasias e em condutas heterossexuais. Sem embargo, parece ser que estas condutas são frustrantes porque falta o componente emotivo e de autêntica atracção física que caracteriza as relações homossexuais nestes indivíduos. Por isso, o mais normal é que abandonem estas práticas, mas não por medo ou aversão ao sexo oposto, mas porque lhes resulta menos gratificante.
A gênese do homossexual
Os homossexuais com filhos costumam ter medo de que a criança siga o modelo de sexualidade do pai e adopte um estilo de vida homossexual. No entanto, as investigações indicam que isto não é assim e que tanto o desenvolvimento da criança como a sua identificação de género é independente da orientação sexual dos pais. Nem a hereditariedade nem os factores hormonais proporcionam uma explicação plausível da homossexualidade. Um investiga dor alemão chamado Domer defendeu a ideia de uma falta de andrógenos no hipo tálamo nos homossexuais, antes do nascimento, e um excesso destes nas lésbicas.
Esta teoria, ainda que seja interessante, talvez não seja a única que explica a homossexualidade. Se fosse verdadeira, talvez o único que demonstraria seria uma «disposição» do cérebro dos homossexuais para aprender mais facilmente as práticas homossexuais e ser-lhes mais difícil manter uma conduta heterossexual.
A homossexualidade é uma tendência biológica comum a todos os mamíferos, incluído o homem; a aprendizagem - segundo as circunstâncias em que tenha ocorrido, as várias experiências e reforços emocionais que se tenham recebido - condicionará os diferentes padrões de conduta sexual, as distintas «tendências» e a forma que as mesmas podem tomar. Nas sociedades restritivas esta tendência é reprimida e tende a ser extinta. O homossexual da nossa cultura fracassa parcial ou totalmente, segundo o quantum de homossexualidade na conservação do potencial biológico heterossexual. Às vezes ainda é mais difícil encontrar as diferentes experiências que consolidaram uma conduta homossexual - sobretudo exclusiva - ainda que por extensão se possa dizer o mesmo da heterossexualidade.
Nas origens da homossexualidade há tantas combinações possíveis, tal entrelace de atitudes, de reforços que assegurem a sua fiabilidade, que não é nada simples a tarefa de atribuir um valor mais forte que outro a uma diversidade de condicionamentos tão formidável.
Personalidades iguais, sexualidades distintas
Uma pergunta que se colocou frequente mente é se os homossexuais são doentes psiquiátricos. A resposta deve deixar claro que não o são. Não obstante, há que matizar esta rotundidade. Ainda que seja normal encontrar patologia psiquiátrica entre os homossexuais, tem que se admitir que uma pessoa não pode viver na sua atmosfera de rejeição geral de disfarce contínuo, numa sociedade que sanciona e prescreve as suas actividades e desejos, num mundo social que se burla e ri deles em cada momento, sem que a sua personalidade se veja fundamentalmente afectada.
Os homossexuais não possuem personalidades diferentes dos heterossexuais: nem são mais susceptíveis, nem mais simpáticos, nem mais introvertidos, nem mais dominantes. Nada na sua forma de ser pode distingui-los dos heterossexuais. Somente a sua angústia, o seu desgosto, a sua depressão quando não são aceites no seu âmbito familiar ou social.
Por outro lado, ainda hoje continua a haver quem pense na possibilidade de «curar» os homossexuais. Naturalmente, neste caso, o conceito «curar» é relativo, já que não estamos perante uma doença definida. Talvez fosse melhor utilizar o termo «mudar». De momento todas as técnicas utilizadas tiveram resultados muito distintos, sendo as de melhor prognóstico as tentadas com jovens muito motivados, mas inclusive com estes as estatísticas de «mudança» são decepcionantes. De facto, perante um homossexual pode-se optar por quatro tipos de terapias:
• Reduzir ou eliminar a tendência homossexual e criar ou aumentar a heterossexualidade.
• Reduzir ou eliminar a tendência homossexual sem alterar os seus desejos heterossexuais.
• Aumentar o desejo heterossexual sem modificar o homossexual.
• Melhorar a adaptação do sujeito à sua situação homossexual.
Consideramos que salvo em casos particulares muito concretos, é mais correcto aumentar o interesse e melhorar as relações heterossexuais do paciente, que fazê-lo sentir aversão pela sua situação homossexual.
Em qualquer caso, é crucial que o homem ou mulher homossexual acudam a um especialista que não considere a homossexualidade uma doença, um transtorno ou uma carga onerosa. E sim - como costuma acontecer frequentemente - as técnicas de reaprendizagem fracassam, o terapeuta deve tentar sempre a adaptação à homossexualidade, voltar «às origens» e procurar que o homossexual se aceite a si próprio e que a sua sexualidade não seja fonte de problemas, mas de satisfações.
Um dos maiores temores do homem ou mulher que descobre e confirma a sua homossexualidade é o de ter de enfrentar - se a esta publicamente: pensam que dar a conhecer à família, aos amigos e companheiros, as suas preferências, provocará efeitos negativos, mas a verdade é que cria muito menos do que os esperados a longo prazo. A sociedade actual é muito mais tolerante com a homossexualidade e quando assim não acontece, porque ainda existem pessoas que consideram «mal» os homossexuais, geralmente pode dizer-se que se impõe a discrição.
O «ser conhecido» pode ter consequências menos devastadoras do que pensam e temem muitos homossexuais. Por exemplo, os profissionais de alto nível costumam ocultar mais a sua condição a nível social, mas não no seu pequeno mundo íntimo. Em conjunto, a homossexualidade afecta menos a vida social da mulher que a do homem. Mas enquanto que estas pensam que lhe é prejudicial porque as suas amizades se limitam demasiado a mulheres homossexuais, os homens homossexuais lamentam-se porque a sua condição priva-os de uma vida em família.
O conhecimento por parte dos pais da homossexualidade do filho ou da filha costuma proceder de fontes exteriores e rara mente se fala disso. No que se -refere às raparigas, em metade dos casos a reacção dos pais é de aceitação e compreensão; os restantes repartem-se entre a irritação e a incerteza, ainda que com o tempo as coisas se acalmem e acabem por aceitá-lo. Padrões de vida dos homossexuais
Um estudo significativo (Bell e Weinberg, 1978) identificou os seguintes seis tipos de vida homossexual, que, de facto, não se diferenciam excessivamente dos padrões de vida das pessoas e casais heterossexuais.
Homossexuais em casal fechado
Vivem uma relação muito semelhante à de um casal convencional de tipo heterossexual, implicando esta um alto grau de exclusividade em termos de relações sexuais e interpessoais. É pouco frequente que procurem outros companheiros fora do casal, não costumam ter problemas sexuais e não lamentam a sua condição. Apresentam uma adaptação social muito boa e muito poucos problemas pessoais. Como grupo, são os que melhor aceitam a sua identidade e os mais felizes.
Homossexuais em casal aberto
Ainda que vivam uma relação de casal, não estão completamente satisfeitos e procuram outras relações. Representam o colectivo de homossexuais que mais se esforça por estabelecer novos contactos com interesses sexuais. Costumam ter uma intensa e variada actividade sexual e, ainda que geralmente mostrem uma boa adaptação social, não aceitam tão bem como os anteriores a sua identidade. Esta é a forma de vida mais comum no caso dos gays, mas não nas lésbicas, que normalmente vivem em casais fechados.
Homossexuais funcionais
São os que não têm companheiro, e com partem a sua ampla experiência sexual com um grande número de homens, consideram-se com uma alta atracção sexual e têm poucos problemas deste tipo. Não lamentam a sua condição. Costumam tratar-se de indivíduos mais jovens que os pertencentes aos grupos anteriores, e são os que têm mais problemas sociais, como detenções ou discussões, devido à sua busca intensa de novos companheiros.
Homossexuais disfuncionais
Aproximam-se à imagem tradicional do homossexual atormentado. São pessoas que encontram uma escassa gratificação na sua vida, têm mais problemas sexuais que os outros grupos, lamentam-se da sua situação e costumam ser vítimas da maioria das extorsões sociais e conflitos, especialmente laborais. É frequente que estes homossexuais, principalmente as mulheres, procurem ajuda psicológica para fazer frente aos múltiplos problemas que encontram na sua vida.
Assexuados
Mostram pouco interesse e escassa actividade pelo sexo, relacionando-se com muito poucos companheiros sexuais. Constitui o grupo que com menos frequência se mostra exclusivamente homossexual e são muito reservados. O seu padrão de vida é a solidão, tanto do ponto de vista social como sexual.
Homossexuais casados
Um caso aparte é o dos homossexuais que se casaram com um membro do sexo oposto (recordemos que o casamento religioso não está permitido a um casal homossexual e, de momento os homossexuais só se podem casar civilmente em muito poucos países, como na Dinamarca, Países Baixos (Holanda), Espanha, Bélgica, Canadá, África do Sul e nos estados americanos de Massachusetts e Iowa.
Os homossexuais casados costumam ter mais problemas, devido a um índice maior de culpa, vergonha ou ansiedade em relação à sua homossexualidade. A sua permanente dupla vida chega a atormentá-los tanto que acaba por produzir um conflito psicológico que os leva inexoravelmente à consulta com um profissional.
Não é verdade, tal como pensam alguns, que a maioria das lésbicas acabe por se casar, mas é verdade que o fazem mais do que os homens homossexuais (26% contra 18%). Adverte-se nestas a tendência a casar em idades mais jovens, talvez como forma de tentar acabar com a situação de conflito que lhes origina a sua situação sexual. Assim, mostram preferência por um companheiro de tipo passivo e pouco agressivo. Por último apresentam uma rejeição quase unânime à realização de um casamento por conveniência com um homem homossexual.
Outra crença muito difundida é que, ao contrário dos homens homossexuais, as mulheres homossexuais podem sentir-se satisfeitas com a relação heterossexual. Em linhas gerais deve-se dizer que isto não é assim. Somente quarenta por cento das mulheres lésbicas referem alguma reacção positiva perante a relação com homens, mas geralmente sentem-na como inadequada. Entre os sentimentos negativos que acompanham as relações heterossexuais das mulheres lésbicas, cabe distinguir os seguintes: medo do dano físico durante o coito (não tão frequente como se poderia esperar), temor pela falta de atracção, temor à gravidez e hostilidade em relação aos homens. Falta referir que somente quatro por cento dá esta última resposta, pelo que devemos concluir que o tão aclamado «ódio em relação aos homens» é muito menor do que se supõe.
Homossexualidade feminina e masculina
Para muitas pessoas, a homossexualidade continua a ser sinónimo de homossexualidade masculina, como se a feminina fosse uma simples entelequia. Numa cultura de sinal marcadamente masculino não é estranho ouvir frases como esta: «Depois de tudo, o que podem fazer duas mulheres sozinhas?». Não obstante, desde tempos muito antigos encontram-se sinais velados de uma certa preocupação pela homossexualidade feminina, como nos Concílios de Paris e Rowen (1212 e 1214), nos quais se proibia que as freiras dormissem juntas.
No entanto, as diferenças entre homens e mulheres homossexuais são poucas. As mulheres costumam aceitar melhor a sua homossexualidade e têm menor pressão social neste sentido. Um estudo recente demonstrou que mais de metade dos homens homossexuais (56%) frente a 25 por cento das lésbicas, consideram que a homossexualidade tem alguma influência negativa na sua vida.
Outro factor de diferenciação é que as lésbicas se mantêm mais tempo com a mesma companheira, inclusive quando a paixão terminou, o que não nos deve surpreender se temos presente que, para a lésbica, a escolha da companhia se baseia noutros factores além da atracção física, que é mais dominante no caso do homossexual masculino. Isto explicaria em parte porque as lésbicas têm menos medo de envelhecer que os homens homossexuais: catorze por cento dos homossexuais masculinos e doze das lésbicas confirmam que esta é uma das suas maiores preocupações. Detecta-se além disso, a diferença de que estes afirmaram que em idades avançadas estariam dispostos a pagar por ter relações sexuais, enquanto que estas não o estariam.
Como já se insinuou anteriormente, o homossexual masculino tem regularmente relações sexuais causais, sem que preceda nem siga nenhum outro tipo de relação pessoal, o que raramente acontece entre as lésbicas. Assim que também sejam menos abundantes os bares e outros estabelecimentos dedicados exclusivamente a estas.
Por outro lado, as lésbicas têm menos problemas de rejeição social. As ameaças ou a violência contra a mulher homossexual são raras, assim como as detenções por motivos sexuais (4% comparado com 37% dos homens homossexuais).
Isto deve-se à menor agressividade da mulher, a que esta é mais partidária de um período de galanteio e não de um contacto sexual imediato e a sua maior tendência a efectuar as suas práticas em privado. Talvez evitar os aspectos públicos explique o motivo pelo qual os grupos organizados de lésbicas sejam muito mais escassos e menos importantes que os de homossexuais masculinos.
Para concluir, não se pode deixar de mencionar que, tanto por razões anatómicas óbvias como por razões psicossociológicas mais subtis, uns e outros fazem amor de maneira distinta. A quase totalidade das mulheres preferem uma estimulação prolongada, suave e periférica e, geralmente, não são tão partidárias como os homens das carícias centradas directamente nos genitais. Deste modo, as carícias das lésbicas são de uma grande efectividade e permitem obter elevados níveis de tensão sexual.
O facto de pertencer ao mesmo sexo possibilita uma intimidade quase perfeita e proporciona-lhes uma compenetração que lhes pode permitir «alcançar as estrelas». Não obstante, precisamente por derrubar rápido as barreiras das quais de alguma maneira depende o fascínio sexual, o interesse das lésbicas pelo sexo (e também entre os homossexuais masculinos) costuma cair em seguida. De facto muitos casais de lésbicas renunciam aos seus contactos sexuais passados dois ou três anos. Provavelmente, também se deva ao impulso sexual menos intenso que apresentam algumas mulheres.
Todavia, a menor duração da atracção sexual não se deve interpretar como um defeito fundamental destes casais, já que, por outra parte, são capazes de manter um alto nível de intimidade e satisfação pessoal; definitivamente, de recompensas não sexuais quando a paixão se dissipou, o que não nos deve surpreender se temos em conta que para a lésbica a escolha da companheira não se baseia unicamente na atracção física.
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